Foram os ultimos susurros que eu ouvi. Passava a cada floresta, sombria em seus galhos nebulosos. Cada sombra formava uma criatura sempre inexistente que, no entanto, fazia parte de algum reino animal na minha cabeça. Corri. Estava suando e minha espada pesava na mão. O outro braço sangrava e não me encontrava mais.
AHHHHHHH.
Um grito.
Eu paro. Os galhos parecem se aproximar mais de mim, as sombras pareciam me tocar. Suei frio e não sabia para onde ir. Larguei a espada no chão. Me ajoelhei. Olhei para aquela terra maldita, MALDITA SEJA. Não era para eu estar ali. A raiva se cobria em mim, não o medo. Não poderia ficar correndo por um desleixo. Comecei a urinar em mim mesmo. Senti frio. Lágrimas começaram a escorrer.
Meu caminho de volta foi mais tenso. Eu não corri, voltei andando porque queria enfrentar cada medo por qual passei nesses segundos na escuridão da floresta e não voltar atrás. Os galhos cada vez mais roçavam em meus ombros, principalmente na ferida do lado esquerdo. Andando, calmamente, sentindo o meu barulho destacar exatamente onde eu estava para qualquer pessoa que estivesse ali. Eu não tinha medo, não tinha. Gozava dessa coragem. Morreria ali mesmo, nesse lixo. Não estou sorrateiro, olhava fixo e olhava para cada monstro que surgia em cada sombra. Não esquecia de nenhum, gravava e dizia para mim que depois iria caça-lo e quebrar todos os galhos que lhe restassem. Destruir cada sombra que surge para me fazer voltar. Cada obstáculo que me faz querer voltar atrás. Só tem um caminho para ir onde eu estava e mais de três mil caminhos para correr. Me torturei a cada momento até chegar no local.
Você está no chão.
Foi o que falei para mim mesmo. Olhei a área. Não vi ninguém, apenas o cheiro de sangue. Aquele capim escurecido denunciava o sangue que ainda escorria por aquele corpo. Seus cabelos espalhados emaranhados e suas mãos abertas.
Rrrrr...
Ele voltou. Não sabia o que fazer e dessa vez, pedia a morte. Deitar junto com aquele corpo, e escorrer o meu sangue por cima do dele. Tudo estava escuro e não ouvi mais nada, nada além de seus passos atrás de mim. Ele vinha em minha direção e calmamente. Qualquer um pediria para escapar dele. Qualquer um prezaria ficar longe de qualquer maneira dessa criatura. Eu pedia que ele realizasse seu trabalho, ele falava todas as línguas e nenhuma. Soltei a espada, lutaria nas mãos.
Me virei calmamente. Lá está aquilo.
Ninguém, realmente ninguém gostaria de estar ali comigo naquele momento. Seu sobretudo preto passava de sua altura, pois sobravam panos no chão o que não conseguia ver seus pés. Ele estava limpo e lindo. O preto do tecido brilhava pela lua cheia. Era tão grande que não dava para ver suas mãos pois a manga sobrepõe o espaço. Mas eu via o que segurava.
A madeira tocava no chão e passava de sua cabeça. Na ponta da madeira vinha aquele metal escorrido e enfejurrado que todos sabiam para qual ao uso. Era mágico e surreal observar aquilo. Sem medo, estava por ali e não voltava, alias queria me aproximar. Por fim o capuz cobria o seu rosto, será que isso tinha rosto.
E eu, vivendo minha maior experiência estava lá:
Com a Morte.
Ofereço minha alma abrindo os braços e ouço,
Proponho um trato.
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