28 abril 2008

Diário do Andarilho

Mas um dia como o outro. Ao perceber o quanto fui humilhado, humilhado por mim mesmo, nada mais me interessa. Um dia igual ao outro. Me aproximo para a praça recito poemas e frases bonitas de livros que já li para receber trocados. O dinheiro é diretamente usado no bar onde me sento todos os dias. Volto para a velha tenda, e deito-me bêbado, no antigo saco de dormir.
Acordo para ir em direção a praça. Ao chegar lá, recito poemas e frases bonitas de livros que já li para receber trocados. O dinheiro é todo gasto em bebida em um bar. Volto a dormir. Todos os dias são iguais.

Tudo isso pelo fato que me ocorreu a um mês mais ou menos. O cigano me pega de surpresa. Ele se aperfeiçoou de mim e eu me acustumei com ele. Fui humilhado por ele e por mim mesmo. Por mim, por ter errado em achar que ele não faria nada surpreendente, fui egoísta. Por ele por ter me pego de surpresa, claro. Agora vivo meus dias assim. A solidão convivendo comigo.

A cidade já estava acustumada com minha personalidade que de repente mudou. Brigas e mais brigas, anti-social, grosseiramente chato. Todos se assustam ao meu a redor e pouco me importava com isso tudo. Desacreditava por tudo que já acreditei. Deixei de escrever. Voltei a alguns dias por paixão, e não por fé. Continuo como estou mas vivo por escrever. Minhas poesias do bar saem horríveis. Mas as pessoas choram, com que razão? Poemas fétidos que os escrevia quando não estava são. Teve um que me deu dinheiro para beber por uma semana. As vezes penso o quanto sou ainda egoísta. As pessoas também devem sofrer com os mesmos problemas ou piores que o meu. Não me importo.

Na verdade, deixa eu tomar meu vinho. Mais um dia igual.

Prazer...?

Penetrante, cortante,
Brisa gelada ao meu rosto.
Uma fita de sangue lhe cabe ao rosto,
Prazer.

Caminho ao barulho da neve,
O afundar de minhas botas.
As brancas árvores que têm
Suas belezas escondidas
Pelo fino gelo.
Sozinho, sem destino,
Sem vozes.
Prazer.

Sento-me na pedra,
Disperso em pesamentos,
Refletindo sobre algo e nada.
E percebo no que acontece,
E me indago:
Por que sinto prazer?

27 abril 2008

Alguém

Ao ter alguém fui este alguém,
E este alguém não quis ter outro alguém,
Por que então eu fiz isto?

Ao tornar ter alguém,
Me tornei este alguém, que também,
Não quer que eu me torne,
E qual meu propósito em fazer isso?

Eu sou ninguém?
Para querer ser algo que não sou,
Significa procurar algo que me identifique,
Um camaleão.

Este é igual as cores por qual passa,
Eu, então, sou igual as pessoas por qual passo.
Onde estará o meu alguém?
O meu alguém, que não é de ninguém.

Só meu, mas não o vejo.

18 abril 2008

Bolear o ser

Tamanha besteira,
Amizade, amor,
Tudo brincadeira.
Que ousadia, criar nomes para instintos.
Pesara em achar que tudo era lindo,
Que o mundo era cor de rosa,
Todos tem boas intenções, todos sorrindo
Diante das alienações do mundo.
Alguns se acham intelectuais,
Pensam que ler demais, fazem se tornar demais.
Alguns se acham bonitos,
Que ser desejado demais, o faz demais.
Tamanha estupidez, em achar que tudo
É tão fácil assim.
Tamanha estupidez em achar tudo de uma maneira tão... estúpida.
Procuram formas estúpidas de se comunicar com estúpidos.
Se entrosar.

Ao que pudes perceber, sou um assim,
Mas que rebeldia não querer ser.
Apenas tentarei... não mais viver
Querendo entender o que dizem crer.

16 abril 2008

Persistência de pernas dormentes

Estava numa estrada.
Caminhei e despercebido,
Caí num buraco, numa vala.
Aquele mesmo que desci
Da ultima vez que estava aqui.
Ninguém vem a me ajudar,
Teria mesmo que me virar,
O que fazia ali sozinho,
Não sei,
Porque estava só,
Não tinha a mínima idéia,
Apenas caminhava por alguma coisa por qual não lembrava.
Que pena, por causa disso caí aqui,
Numa vala escondida,
Onde ninguém imaginava estar onde está.
Só tenho algo dizer, a mim mesmo,
Diante da minha frieza, que seria:
Meus pêsames.

13 abril 2008

Sintonia

Oh, menina de leveza sintonia!
Estranhamente passou como da última vez,
Onde com outra já se apareceu,
Mas, vamos ver o que os seus olhos me dirá.

Será igual da ultima vez,
Onde com a outra teus olhos tinha dito?
Minha capacidade de enxergar o que já vejo,
Diante da íris por qual tudo se revela
É bom.

Mas não errarei no diagnóstico como da última vez.
Me custou um coração partido.

10 abril 2008

Velhas palavras sofridas

Infames conturbações,
Para tentar decifrar as apologias da mente,
Pois o homem mente,
Ah, embriagações dos sentimentos,
Causam esta confusão,
Traz um desalento, uma reflexão,
E medonha ao meu ver,
De que homens não são confiáveis.

Quem ponderás a bondade e a maldade do homem,
Se o própria se contesta, se o próprio se manifesta
De maneira incontrolada?

Velhas palavras de uma alma sofrida,
As vezes há uma razão,
Simplifica com esta frase:
Todo homem mente.

09 abril 2008

Sozinho

Hum... só,
Não recebo respostas de meus chamados,
Sou ignorado.
São ignorantes, grossos,
Titubeio então a falar novamente,
Pertuba minha mente.

Que em vão, proponho-me a pensar,
Se há algo que tenha que fazer,
Para me responderem.
Valores diferentes,
Cada um com seu Universo,

É melhor, como está,
Darei um valor real a solidão.

Opaco

É, desabafos,
Desânimos criativos.
Nada, tudo,
Amor, escuro...
Escuro... o escuro do coração,
Escute a alma e sua canção.

Opaco, está seu interior.
Sim, está a desejar,
Mas, ninguém deixar a desejar.
Valores diferentes,
Já que para mim, está a desejar,
O opaco.

Isso é oriundo do nascimento.
Nascemos assim,
E quando morremos,
Ficamos assim.

Opaco é oriundo da alma.

08 abril 2008

Vôo

O tempo voa sem a gente perceber,
Leve, atravessa o ar sem cortar,
O vôo leva tempo para estabilizar.

Dinheiro não é tudo

Quem você pensa que é?
Só porque ganha dinheiro,
Diz que tem carro maneiro,
Casa mobíliada, uma lancha até,
Desconfio da sua qualidade,
Se isso pra mim traz felicidade,
Acredito na espiritualidade,
E não nessa farsa de quantidade,

De que o material é o mais valorizado,
Do que uma vida com o amado,
Ou amada,
Quem sabe isso até pode dar uma ajudada,
Mas com certeza não satisfaz
Os seus mais primordiais dos instintos,
Você sabe muito bem o que lhe digo,
É a amizade, o amor, viver sem medo,
Se entrengar a um amigo,
Se declarar a vizinha que você sempre quis um beijo.

Tá achando que terno te deixa mais bonito?
Que o palitó e a gravata te deixa mais atraente?
Acho que não,
Só se for para as mulheres só querem saber do ouro em forma de brinco,
Gente da sua laia, que não importa sua feiúra,
O que importa é o que tem no banco, no talão, no dinheiro,
Bote fé, ela não é crente,
O dinheiro que ela pede não é pra ajudar instituição carente,
Aqueles seios não são naturais,
E não são virgens, já foram pegos por muita gente,
Gente da sua laia, que não importa sua feiúra,
Tem que sustentar essa mulher que se finge de crente
E alguns meses depois se torna viúva.

Por que será que todos que casaram com a mulher de Deus,
Foram lá visitar o Senhor?
Quem sabe ela convenceu de que acima de tudo,
É o amor,
Ou falou que a fé vence mais do que ter talão de cheques,
Mas saiba lá Deus, que já conheceram os falecidos,
Que usavam o terno, o palitó e a gravata,
Que achavam que eram atraentes e bem bonitos,
Descobriu porque quiseram deixar a mulher com todo o dinheiro.

Não esquenta, eu sei que agora você entrou em desespero,
Não sabe o que fazer com tanto dinheiro,
Já que não é mais isso que você valoriza,
E sim uma boa mulher na sua vida,
Só não seja besta, não dê tudo que você tem a ela,
É melhor salvar crianças carentes,
Do que deixar que ela use tudo em cremes.

Quer dizer, é melhor trocar de mulher
E conhecer alguém que não saiba nem do seu dinheiro,
Que te conheça sem o terno, sem qualquer apetrecho,
Que veja quem você é realmente,
Que o valorize não pelo que você têm,
Mas pelo que você é,
Bom, isso já é meio difícil, já que você sempre foi um mané!

É quem procura a vida no dinheiro,
Perde o direito de viver sem receio,
Todo mundo que chega perto,
Você já acha que é algum esperto,
Que deseja pegar a sua grana,
Ou que deseja te deixar em cana.

Por isso sou feliz,
Mesmo não sendo rico,
Eu sei que é melhor do que viver
Com medo de que o meu próprio amigo,
Suma com o dinheiro e a mulher que vivia comigo.

Mente limpa, uma pessoa tranquila,
Isso é o que eu sinto,
Não me preocupo com o que não tenho,
Nem o com o aluguel,
Eu vivo sabendo que tenho que trabalhar,
Para conseguir o que eu preciso,
E isso vai satisfazer minhas necessidades,
E não terá ninguém que se interesse
Pelo meu carro sem ar-condicionado,
Pelo meu cabelo roliço,
Pelo meu corpo redondo.

Sou apenas um homem que valoriza as coisas boas do momento.

03 abril 2008

Armário Mental

Cheio de teias, sujo, poeira
Range a porta ao ser aberto,
Muito mal usado,
Pouco utilizado, então,
Nao guardarei aí minhas roupas.

Minhas coisas antigas estão aí,
Aquela velha moda, me sentia bem,
Não sou mais aquele que já fui,
E nem serei mais o que estou sendo agora,
Passa, modifica.

Ao ranger, outra porta é aberta.
As gavetas, guardados os objetos, momentos pequenos,
Aquela meia suja, que tenho vergonha de mostrar,
Dou risadas daquilo que já tive vergonha,
Tenho vergonha daquilo que irei rir ao futuro próximo,
Passa, modifica.

Poderia limpá-lo,
Renovar minhas roupas,
Usar as mais antigas, que tal
A moda que eu me adequar melhor.

Poderia me sentir bem como eu me sentia,
Mas me sinto bem como me visto agora,
Qual a intenção de se sentir bem como já me senti
Se sinto bem com o que eu estou sentindo agora?

Confuso, fico, qual a diferença?
As roupas antigas, as novas,
Novos estilos, antigas gírias

É, temos medo de nosso passado,
Escondemos nossos erros
E nao queremos adivinhar o nosso futuro,
Não comentamos do que acontenceu,
Como não podemos comentar do que não aconteceu
As vezes choramos pelo que já ocorreu nesta vida,
Choramos sem saber o resultado de um exame,
Quem sabe a morte, quem sabe a vida

Medo, medo, medo!
Coragem só existe, se existir o medo,
Dizer que existe imperfeição
É justificar que existe perfeição,
Mas se não existe, nao há,
Se não há, não tem o que preocupar-se

É este instinto que desperto ao relembrar,
O que encontro nas gavetas,
Nos cabides, no ranger da porta.

O medo de mostrar a verdadeira face.
Toda a vida da dicas para mostrar
O que verdadeiramente sou.
Assim ocultamos parte de nossas vidas
Buracos ficam nas histórias
E nada podem identificar,
Os outros, os amigos, os pais,

Nem eu.

Molecagem

Palavras lindas, maldita seja,
Imaturidade proclamada, ações incovinientes,
Risada, façanha, molecagem,
O que procura diante destas faces?

Ah, tamanha sem vergonhice!
Beleza infinita não adianta,
Sua atenção precisa ser suprema.

Olha isso! Que meninice...
Não adianta avisar, nem conversar,
Que cegueira, que insensatez,
Mas que besteira, avisar!

Vê as maluquices.
É, não tem jeito,
É, esquece.

Ali sempre será criança, de qualquer jeito.

02 abril 2008

Olha o garoto,

Ao atravessar a Av. Manoel Dias,
De bicicleta vermelha e azul,

Desbotado,
Vestido com calça jeans, chinelos e camiseta,
Passa pedalando em direção a Orla,
Pois, quer
Ouvir os ventos do mar
Misturada com o barulho da brisa,
Das ondas caindos seguidamente,
Seguidamente e seguidamente,

Ele, o garoto,
Procurando um lugar para se identificar.