02 junho 2008

Encontro

Tempo corre. Continuo caminhando com pressa de que eu chegue logo ao local. Olho novamente para o relógio e mostra - rachado - que ainda há tempo. Eu poderia ter me apressado antes de ter saído de casa.

Acordei com pé esquerdo. Ao olhar meu flat de relance, percebi a bagunça que estava e fiquei com preguiça de procurar o jornal. Deixei de ler e fui fazer o chá. Encontrei o maço de cigarros no armário de temperos. Tirei um e acendi enquanto fazia o chá. Precisava encontrar minha roupa. Voltei novamente para o quarto e abri o armário, onde botei uma calça social azul, por cima do pijama, encaixei o cinto e botei uma camisa também social, mas branca. Me virei para a cama. Ali não estava. Olhei por debaixo, na cabeceira ou na escrivaninha cheia de papéis. Não o vi. Cadê minha gravata, meu terno? Procurei aos arredores, fui no sala e cozinha ao mesmo tempo, só roupas comuns no sofá, pijamas na antena da tv, nada, nada de palitó. Desisti. Fui fazer meu chá.

Aprotei o chá, sentei no sofá, liguei a televisão. Não passava nenhuma coisa que de interessante. Surgiu um livro debaixo da tv, de capa preta. Abri para ler, sem muito comprometimento, folheando as páginas devagarinho. Um pedaço de papel. A data, o horário, o local. Sinto uma ponta de suor, escorrer da minha testa até meu queixo e percebo que meu nervosismo já está comigo antes de eu mesmo sentir. Levanto-me. Meu palitó tem que estar aqui.

Ele estava embaixo do armário do banheiro. Foi fácil achar, deu vontade de ir no banheiro quando comecei a procurar, logo quando deixei o livro de capa preta em cima da cabeceira do quarto. Peguei o livro com a mão, busquei meu relogio na gaveta, pus no pulso, fui em direção a porta, meu sobretudo me esperava lá e saí. Não dava tempo de ir de metrô, o local não era tão acessível por isso peguei um táxi. Atravessei a rua procurando minha carteira que por um momento deixei escapar a lembrança dela ao lado da xícara de chá.

Quando retornei a rua novamente, dobrei-a rapidamente. Andava com velocidade, tinha que chegar a tempo, não sabia que isso já tinha chegado. Tenho que me apressar. Corri praticamente as escadas do beco, quando um táxi passou exatamente na minha frente. Chamo-o deseperadamente. Torrie Effiel, eu aviso rapidamente, ele acena com a cabeça e começa a dirigir.

Salto na entrada da praça, e comecei a caminhar com pressa que era onde eu tinha parado no ínicio.

Hoje era dia domingo, estava de férias, início de ano, deve ter uma multidão com trocentos turistas, barbudos e lambusados de comidas francêsas entre os pêlos do rosto, aquela velha filmadora preso no pescoço, com um chapéuzinho de sol e a padrão camisa regata florida. Encontrei o que se encaixava exatamente com minhas expectativas. Turistas.

Depois de uma análise rápida encontei um local com menos gente, perambulando por aí, falando sobre coisas geninais por qual não vejo graça nenhuma. Sento-me num banco próximo, procuro o livro de capa preta no sobretudo e no instante em que iria abri-lo, um turista pergunta onde poderia ter um almoço bom. De maneira gentil respondo rapidamente que na esquina existia um pequeno bar com petiscos maravilhosos que deveria experimentar lá e finjo estar lendo o livro, pois, rapidamente abro numa página qualquer e começo a encaminhar meus olhos de uma lado para o outro. O turista sai, percebe minha falta de paciência em responder suas perguntas.

Eu estava ansioso, contava dentro de mim os dias para chegar o momento. Pensava no que fazer, e esquecias nos meus copos de uísques e cochilos enfrente a televisão. Não procurava muito modificar o fato, já que minha displicência é completa. Meu trabalho nunca foi tão divertido nessa época, esquecer do tempo, o tempo passa. O tempo corre, esqueço do tempo e esqueço da vida. Papéis, caneta, papéis, caneta, riscar, rabiscar, tudo isso se tornou um analgésico. Depois de 3 meses aguardando o hoje, me encontraria com ela, depois de uma briga. Correu de casa chorando, por uma besteira, cíumes, desconfiava de mim e aquela reclamção de sempre sobre o meu desleixo. Aqui, ela apareceria e eu pediria desculpas e mudaria tudo.

Mas não foi ela que apareceu. Um homem de terno preto e gravata vermelha aparece andando apressado segurando uma maleta de couro e suava muito. Quando me viu, acelerou mais ainda seus passos e sentou-se no banco limpando com a manda da mão a testa ensopada. Um bom dia foi falado rapidamente ao mesmo tempo em que abria a maleta com feixes prateados fazendo um 'clic' como barulho. Ele abriu a pasta, tirou alguns papéis, um caneta, mais alguns papéis e me entregou.

Um divórcio.

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