30 agosto 2009

Carniça


Passos rasos, pingos de chuva, passos rasos, passo por uma poça, um cigarro, passos rasos, tropeço em uma cadeira, tropeço em outra cadeira, não estou bêbado, mas estou cansado, passos rasos, cansado, passos rasos, passo por outra poça, o cigarro foi jogado no chão, pisado e apagado.

Se bem que..., penso e logo esqueço.

Ele, ou eu, vai em direção a porta do bar, esconde-se dos chuviscos.

Que porra to fazendo aqui, pensa dessa vez a frase toda.

Não estava se sentindo bem, não estava achando nada legal. Um mundo de dúvidas, algo que você não quer para a vida toda. Você realmente não quer isso para a vida toda.

Hora de mudar, penso.

Mas então, é algo que não nos distrai por completo. Sentimos um vazio e que algum pedaço está faltando em nossos corações. Todas as compainhas juntas neste dia não conseguem suplementar uma.

É triste, é triste.

É triste o mundo perdido que essas pessoas vivem e não tomam consciência do que estão fazendo. Você mesmo percebe a inquietação nas suas pernas que balançam, a ansiedade. Uma troca de rebeldia alheia entre elas, as pessoas. Uns ollhares cabulosos, macabros e pressinto uma imensa solidão nos olhares de todas elas. De um desespero pela liberdade. Um desespero tão... maligno. Uma energia negativa é acumulada, sentida, passa pelo meu corpo trazendo um arrepio.

Mas que mundo nós estamos, meu Deus? pensei, formulando o último pensamento solto.

Volto a me esquecer.

26 agosto 2009

Pós sexo


Não sei porque, tive uma visão que para mim é tão tranquila, tão relaxante.

Ela deitada, coberta parcialmente pelos lençóis, de barriga para baixo, com perna esticada e uma perna dobrada com o joelho alcançando a barriga, ocupando todo o espaço da cama de casal. Suas costas nuas, o cabelo sobre o resto do travesseiro, uma mão proxima a seu rosto, outra mão próxima a sua perna.

Uma cama branca, lençóis brancos, um quarto branco, a armação da cama de uma madeira clara e envernizada. Meio que da cor de pele. O piso, são azulejos, também brancos e havia um armário branco. Eu já estava em pé.

Ela ainda adormecia profundamente, eu me olhava no espelho, colocava uma bermuda e um tênis. Preparo um pão com nescau para ela. Coloco ao lado da cama, observo por alguns segundos seus cabelos, seu rosto, seu corpo, suas costas nuas. Observo o seu momento em que dorme. Olhos fechados sem se preocupar com nada é algo tão... relaxante.

Eu me levantava, ia até a porta, saía do apartamento para dar uma corrida perto da praia. O dia ainda estava amanhecendo.

Isso me deixa tão calmo...

Sei lá o que eu vou ver e o que vai acontecer quando eu voltar.
Quem sabe ela já me espera acordada.

23 agosto 2009

variando; eu só queria conversar

.I

estou variando muito.
e eu só queria conversar,
não sei de que, mas falar,
já que falo deamis.

falo demais, faço demais,
tudo em excesso, cigarros,
amores, dores.
extremista demais.

estou variando os lados,
pingando de canto em canto,
procurando o meu próprio,
que não encontro na sala oval.

e aí, me desencanto.
me desmancho, peço um abraço,
queria só conversar,
aliviar o vazio.

aquele vazio que preenche
todo os espaço de meu peito.
aquele vazio encontrado
onde poderia ter muita coisa.

eu faço variações, de mim,
de minhas ações, de tudo
que envolva meu ser,
se é que é algo do tipo.

.II

eu só queria falar algumas
poucas palavras em seu ouvido.
eu queria dizer alguns poemas
que eu tenho escrito pra ti.

eu queria pedir alguns desejos
que não foram ainda realizados.
eu queria lhe desejar coisas
que ainda não aconteceu com você.

eu queria exigir coisas de sua boca,
atitudes de sua pessoa.
eu queria humilhar-me
e rebaixar-me por amor.

só conversar um pouco,
fazer de seu ouvido um circo,
e de minha mente,
uma mente de paz.

só ouvir um pouco mais
do que você tem a dizer,
que irá me machucar,
que irá me magoar.

que irá, que irá,
não deixo nem as coisas irem,
ou rolar... me fizeram
ansioso e assim sou.

preciso variar. preciso
sair desta toca de onde
eu ouço suas palavras,
vagas, vazias.

quero ouvir uma verdade,
longe de um texto,
ou fora do contexto,
de sua boca... de sua voz.

daquela sua voz, verdadeira
e não sendo a voz fria,
aquela que derrete meu coração
que me faz me decidir.

me decidir em variar,
ou não variar,
de conversar,
ou nao conversar,

no final das contas, tanto faz.

tanto faz quando se está feliz,
pra que mudar? pra mudar algo
que arrisque o que você tem.
que você perca o que você tem.

.I

mas é isso aí, minha cara,
eu dei azar. eu dei azar,
não deu certo, eu arrisquei
fui no incerto.

perdi você, o incerto,
perdi outras, outros,
felicidade, um esboço dele pelo menos.

mas nada muito perto do que eu queria.
nada muito perto do que todos tem,
nada muito perto.

é o destino de cada um, bourscheid.

17 agosto 2009

O orador.

eu mereço.
como uma borboleta, que não sai de um casulo.
eu mereço,
o veado que ficou para trás, para ser comido pelo leão.
as folhas secas no canto da árvore.
o ponta quebrada de um lápis.


eu mereço,
fui mal educado.
ou não tive capacidade de aprender.
eu sempre fui transtornado,
e não soube lidar e viver.

eu mereço,
por tudo que deixei de fazer,
e por tudo que fiz sem perceber.

sou um ponto no himalaia.
uma gota d'água em itaipú.
um grão de areia no deserto.
um guaxinim numa savana.

eu mereço.
sou a estrela no espaço,
que não aparece no céu.
sou uma estrela no espaço,
que não se diferencia no universo.

eu sou a arma que me aponta.
eu sou a bala que me atinge.
eu sou a espada que me fura,
eu sou a pessoa que me apunhala.
eu sou o homem que me trai.
eu sou a mulher que esculacha.

uma pétala de uma flor, torta,
lhe dando feiúra.
eu sou o rosto que definem as síndromes humanas.
uma lagartixa que não sai do casulo para voar.
o filhote que não sobreviveu.
o filho que foi comido por outros filhotes.

sou espécie que a seleção natural não escolheu.
sou o que foi destinado não trilhar.
eu sou o escolhido a não ter destino:
e este é meu destino.

sou o touro que não derruba um peão,
o touro que morre no chão de barcelona.
sou a alma que se perde no grito.
sou a dor da guerra de picasso.

sou aquele que é deixado pelo Deus...
e pelo demônio também.
sou aquele que é esquecido por todos,
e por mim também.

sou o pêlo solto de um urso.
sou o peixe sendo comida pela baleia azul.
o plâncton no oceano pacífico.
a formiga no continente europeu.

sou aquele que tem fome,
porque não sabe comer.
aquele que tem carência,
por não saber se envolver.

eu mereço.

eu sou a arma que me aponta.
eu sou a bala que me atinge.
eu sou a espada que me fura,
eu sou a pessoa que me apunhala.
eu sou o homem que me trai.
eu sou a mulher que esculacha.

eu sou a pessoa que não fui.

10 agosto 2009

ponto de embarque

perco, me perco, perco, me perco.
não sei, não me vem a cabeça,
não tenho, não posso,
nem consigo gritar.

não vejo, nem estou cego,
me agonia não ver o que não exergo,
me azulcrino, me desespero,
eu só consigo chorar.

não olho, tenho medo de respostas,
já tive coragem, um bom tempo que tive,
onde as respostas eram lógicas,
e eu conseguia me sentir seguro.

não tem portas de embarque, não sei,
nem me lembro que horas cheguei em casa,
minha casa é meu coração,
meu coração anda perdido.

não tenho casa, nem umazinha ajuda,
porque sou eu que tenho que me ajudar,
mas não quero ver, nem consigo,
tenho medo de ouvir a resposta,

tenho medo de enxergar.

não me abro, mas abro fácil,
falando o que eu sinto,
e o que eu sinto, eu também sinto fácil,
mas não sei como mostrar.

não sei como utilizar, nem o que fazer,
não me lembro dos sentidos,
procuro sempre, mas sempre mesmo
uma forma diferente de viver...

diferente do que eu sou.

tenho vergonha de como eu vivo,
me orgulho do que eu sou,
mas não sou aceito onde vivo,
nem consigo o que eu preciso.

não tenho desejos legais,
nem entreterimento bastante para os outros,
sou pequeno, baixo, ondulado
como um gráfico.

assim são meus jeitos,
meu ser, e por isso,
sempre acabam me odiando,
ou me adorando, mas sempre...

sempre passam pelos dois.

talvez porque isso é viver,
ou porque não sei viver com eles,
e isso me entrega do que sou
de que medíocre é meu ser.

não sei onde estou,
meu coração levou tudo que eu tinha,
e nunca mais voltou.
perdido ele, abandonado eu.

apenas me orgulho, uma coisa só,
fico tranquilo pelo meu ser,
não ser sujo nem um mau ser.
só quero ser, só quero ser.

só quero ter, só quero ter,
e nunca penso em ver,
enxergar, esquecer, viver,
nao consigo.

não consigo amar direito,
só amo do meu jeito,
amar cada um tem seu jeito,
cada um expressa igual.

mas ninguém consegue ser,
nem eu, nem você,
não sei se conseguem,
até conseguem, mas...

é meu consolo por não ser.

eu não sou, não vivo,
não doou, nem sobrevivo
ao que me dão, só tenho
orgulho do que sou.

ah, que triste...
queria que um sonho meu só se realizasse.

09 agosto 2009

um novo antigo poema

não há ilusão.
não tem doce ilusão.
não se consegue apenas com expectativas
e também não consegue apenas com atitudes.
não consegue por força de vontade.
não consegue por luta, ou por coragem.
não consegue se você for otimista.
não se consegue fingindo que não liga.
você não ganha, achando que vem a sua frente.
você não ganha, achando que batalhando alcança.
você não vence apenas se esforçar.
você não valoriza o fato de ter chegado até ali,
você sempre valoriza a vitória.
o que percorreu sempre perde o sentido, quando não há vitórias.
e querem que a expectativa de ter ganho, que tinha no caminho,
seja o que você tenha que valorizar.
valorizar o que você sonhou pra conquistar...
e não conseguiu.

você não pode fazer o que quiser.
você também não pode ficar sem fazer nada, não vive.
você não pode evitar riscos.
e você não escolhe o tamanho dos riscos que tem.
você não foge dos problemas.
e os problemas não saem de você.
você não resolve os problemas porque quer.
você não acerta porque você é bom.

você não luta porque tem forças,
você não tem coragem porque você não tem medo.
você não se arrisca porque não tem medo de arriscar.
você não sofre porque errou.
você não fica feliz porque acertou.

na vida, nada é pelas qualidades,
nem pelas habilidades, ou se quer
por coragem, amor, vaidade,
seja lá que sentimento for.

você não é feito para viver.
você não é feito para grandes feitos.
você não é criado para grandes crias.
eu não conquisto,
eu não mereço,
eu não sobrevivo,
eu não consigo,
eu não alcanço.

você sofre porque assim foi decidido.
você não consegue as coisas porque você quer, pois...
nunca é você que decide.
você resolve problemas porque você teve sorte, já que...
você nunca irá saber quando têm sorte.
tudo em sua vida não está em suas mãos.
todas as suas decisões fogem e se esvaem de seus dedos.

tudo que você vive,
é porque deveria ser vivido assim.
e não é você que escolhe.
está livre de viver,
graças a Deus.