31 outubro 2007

Diário do Andarilho

Certa vez um comerciante que vendia pão, com quem cruzei, aproveitou para me contar uma história.

"Um homem, caminhava com seu cavalo e seu cão numa tempestade forte, quando de repente um raio o atingiu. O homem, não percebeu que já estava morto e continuara sua caminha até chegar em uma montanha.

O homem começa a subir a montanha e sente muita sede. Logo no pé da montanha encontra um portão com um guarda em frente e dentro dele uma fonte de água limpa saindo da boca de um anjo de pedra.

- Boa tarde, onde estou?- fala o homem.
- Você está no Céu. - diz o guarda.
-Eu gostaria de beber um pouco da sua água para matar minha sede. - pergunta o simples homem.
- Pode beber o quanto quiser, mas é proibido a entrada de animais. - acrescenta o guardião da porta.
- Ah, não, então me desculpe, mas não matarei minha sede sem matar a de meus animais também. - respondeu firmemente e continou a subir a montanha morto de sede.

Ele então chegou em uma fazenda. Tinha uma vaca e um boi, uma pequena plantação de trigo e um riacho de água cristalina. Não parecia ter ninguém guardando o local, além do homem que parecia tirar um cochilo na sombra da árvore ao lado.

- Boa tarde, gostaria de beber um pouco de sua água. - pede o homem.
- Pode beber quanto quiser, a água naquele riacho é limpa. - responde o fazendeiro.
- Muito obrigado! Onde estou? - pergunta o homem.
- Você está no Céu.
- Mas que blasfemia! - responde indignado ao homem. - Lá embaixo disseram a mesma coisa, o senhor deveria reclamar com eles por copiarem a identidade do local!
- Nem devo. Pois são nessas horas que descobrimos quem são os verdadeiros amigos, se nos deixam no sufoco ou não, como você não deixou os seus melhores amigos no sufoco. Os seus animais.

Uma linda história. Agradeci ao pão recebido e parti para meu Destino.

Diário do Andarilho

Logo após a volta da minha caminhada, parecia mais tranquilo. Eu me sentia diferente. No parecer, deveria estar igual, mas na mente, parecia loucamente em atividade, tanto que estava cansado e não acreditava o que estava vendo no momento. Tinha algo encostado na árvore, mas eu já sabia o que era antes de chegar. Um demônio.

Saberia que teria que passar por ele e não adiantaria sacar minha espada. Os demônios podem e não podem nos destruir a qualquer momento. Outro dia ouvi certa história assim:

"Quando o Mal se aproxima de você, sente-se ouça-o, pergunte, peça para repetir toda a história novamente e pergunte outras coisas e faça-o falar bastante, pois, quando você se levantar para ir embora sem dar nenhuma palavra, o Mal não terá forças de se levantar para lhe acompanhar depois de tanto ter falado."

Assim me aproximei. Ao entrar na sombra da árvore, eu o vi. Era um cigano, com várias argolas, de calça roxa e uma camiseta esfarrapada cinza. Ele estava procurando alguma coisa na sua mochila de couro marrom de botões dourados.

- Precisa de ajuda? - perguntei serenamente, como se já denunciasse a sua vinda até mim.

Mas o demônio apenas levantou sua cabeça lentamente, quase irritantemente e olhou para mim. Começou a me encarar. E eu rebati na mesma força. O homem tinha um barba mal feita e seus cabelos negros e meios grisalhos batiam em sua orelha, que estava entupida de brincos e argolas. Seu olhos eram negros e me encaravam abruptamente sem nem um piscar. Seu olhos lembravam um buraco negro no Universo.

Mas nada aconteceu. O homem apenas resmungou algumas palavras e sumiu de vista. Me acalmei com a situação e olhei para minha espada. Fiquei-a observando por um tempo, o que poderia ter acontecido, até que senti um instinto estranho e olhei rapidamente pra frente.

O homem me olhava fixamente e quando percebeu que eu o vi, ele deu as costas e desarapareceu nas sombras das árvores.

Ainda o encontrarei novamente.

26 outubro 2007

Só enquanto...

Só enquanto eu respirar,
Terei forças pra lutar,
Só enquanto eu respirar,
Terei forças para me guiar,

Só enquanto eu respirar,
Sei que ainda estou vivo,
Sei que tenho liberdade para caminhar,
Sem ficar aflito do que vem vindo,

Só enquanto eu respirar,
O mundo pode mudar quanto quiser,
Eu sempre vou ser igual, vou me dar,
Ao mundo que um dia foi meu querer,

Só enquanto eu respirar,
Minha alma vai continuar a se purificar,
Vai continuar a desejar,
Um amor pra vida toda.
Ele não cura cicatrizes,
Apenas cobre suas dores,
Ele não exclui seus amores,
Mas faz com que seja o único escolhido.
Lhe faz a pessoa mais feliz do mundo,
Mas te deixa mais triste do que da última vez,
Procura te conhecer lá no fundo,
E sempre te quer o bem.
Afoga suas mágoas,
Você vê o mundo de outra maneira,
Você deixa de dizer asneiras,
Só da gargalhadas das boas.
Tudo lhe parece mais bonito,
Até as mais secas flores do quintal,
Em tudo ele está contido,
Para você tudo é jovial,
É inesquecivél para você.

Mas no fim, só te ensina viver,
De que no final só tem dor,
Só faz você sofrer,
Pois, ele, é o Amor.

Diário do Andarilho

Um certo dia estava pensando e confirmando: o mundo dá voltas.

Mas não espere ela dar volta por si só.

25 outubro 2007

Diário do Andarilho

Acordei no meio da noite, pois tomei uma decisão vinda no meio de uns sonhos.

Sentei-me novamente diante da mata escura e orei:
"Abençoo e perdoo todos meus amores."

23 outubro 2007

Diário do Andarilho

Me acomodo na terra macia da floresta.
O mundo parece em silêncio por meu coração estar em silêncio. Sento em direção ao Leste, a espera de que o sol nasça e me venha de meu rosto um largo sorriso. Calmamente deixo minhas coisas em cima de uma pedra, encosto minha espada numa árvore e ponho-me a observá-la. Cabo preto, arranjos dourados e chamativos e a lâmina limpa e prateada com imagens dos Santos e dos Cavaleiros Templários.

Aceito a escuridão como uma fase deste dia, poderia ter chegado ao meu objetivo logo, logo se ainda estivesse cedo. Acredito que foi uma etapa para chegar ao final. Mas que Etapa.

Quase me desesperei quando anoiteceu. Pensei em seguir o caminho de andarilho pela noite mesmo a procura de qualquer claridade que houvesse sem pensar num resultado para isso. Mas como dizem, o diabo está nos detalhes. Fiquei imaginando alternativas rápidas. Talvez seja necessário avançar na floresta escura, mas não dessa maneira. O chá estava pronto.

Me coloquei diante do Leste novamente com o chá aos meus pés. Aprontei meu cobertor, já na espectativa se eu tiver que dormir ali. Não sairei sem uma decisão concreta. Se perder nesta etapa do processo, seria um erro de principiante. E eu não sou principiante.

Abri meu livro. Lerei algo que possa fazer passar o meu tempo.

Transições Temporais

Aqueles que buscam o tempo perdido,
São senhores do passado,
Aqueles que olham o futuro destemido,
São senhores aloprados
Os que observam o presente,
São senhores de atualmente,
Mas nada disso faz sentido,
Se você não ter,
Nenhum desses três senhores,
Dentro de seu ser.

Meus três senhores,
Juntem-se, mesmo com as dores,
Conversem, mesmo sendo sofredores,
Vão a luta, mesmo com angústia,
Façam o Amor vim, mesmo com medo de se abrir
Pois o passado, o futuro e o presente,
Só fazem sentido quando a sua mente,
Conclui que o tempo e o Amor é uma coisa só.

22 outubro 2007

Paisagem

Uma paisagem.
Ela se dissipou na minha mente, deixando de ser uma imagem,
Foi esquecida pra sempre, por toda eternidade,
Porque era apenas uma paisagem,
Seu mundo desordenado, querendo mostrar força onde há fraqueza,
Magoa muitos e traz pobreza,
No seu olhar, no seu ato de agir, fazendo-a vulgar,
Mas seu mundo oriundo, será um dia destruído,
E não terá com quem dessa maneira contar,
Pois terá passado a vida toda querendo se mostrar firme,
Sem chorar, nem se humilhar,
Mas no fim, nada disso vai importar, e tudo irá se acabar,
Fazendo dessa pessoa para os outros, apenas:
Uma paisagem.

21 outubro 2007

O menino, cansado de esperanças, de que Papai Noel visitaria na sua casa, deixou de acreditar nele. Passou a contar aos outros que ele não existia. Ele explicava que passou 3 anos seguidos nas noites de Natal sem dormir e nunca o viu. Mas sempre lhe perguntavam:
- Mas o presente aparecia?
- Sim.
- Então ele passou lá e você não o viu.

O menino não conseguia acreditar no que deixara passar. Ficou muito triste, pois não tinha conseguido o que tentou por tanto tempo. Ele queria gritar e ver Papai Noel, o homem que lhe dava os melhores presentes.
Ele não encontrava resposta. E simplesmente achou que devia ser assim, porque deveria ser. Começou a acreditar no Destino.

Mas esse menino, era influenciado pelos seus amigos falando sobre seus presentes e alguns que já diziam ter visto Papai Noel quando eram pequenos. E isso fez com que o menino tentasse novamente.

No outro Natal, o menino, determinado e esperançoso, passou mais uma noite inteira e não o encontrou. Ao amanhacer, encontrou lá, o presente. Mas chorou, pois não viu Papai Noel. Chorou por Deus ser injusto com ele e não ter lhe concedido isso, depois de ter sido bom e pedido todas as noites e em suas velinhas apagadas de aniversário, para que Papai Noel surgisse na sua frente. Chorou porque passou 4 anos seguidos inteiros pensando nisso e perdeu seus Natais com noites com olhos vidrados em todos os locais da casa para encontra-lo.

E encontrou? Não.